segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Capítulo: 02

Capítulo 02




Acordo-me nesse 22 de julho, vai ser um ótimo dia, afinal é meu aniversário, hoje faço 6 anos. Tudo precisa dar certo nesta manhã, afinal, quero ganhar meu presente logo!
Após esfregar um pouco os olhos, descubro-me rapidamente, com um pulo saio da cama e ando em direção à porta de meu quarto. Estou com um pijama branco e azul, a camisa é de manga curta e as calças arrastam no chão, meus pés estão descalços contra a fria madeira. Abro a porta branca de meu quarto e caminho pelo tapete bege do corredor, passando pela escada a minha direita, que desce para o piso de baixo. Logo a frente a esquerda, passo pela porta que leva até uma escada para o sótão, estranho, mas nunca estive lá... papai sempre a deixa trancada, não tenho nenhuma recordação dessa porta estar aberta, a não ser de uma, onde  vejo-a um pouco aberta mas, ao me aproximar, deparo-me com a figura de meu pai fechando-a rapidamente pelo lado de dentro. Continuando meu passeio pelo corredor, passo pelo banheiro, também a minha esquerda, a porta está aberta. - Estranho, a essa hora devia ter barulho para todo lado! - falo enquanto continuo andando, agora, lentamente. A minha frente, vejo, no final do corredor, a porta do quarto da mamãe, ela esta entreaberta, aproximo-me mais da porta, pela fresta, consigo ver a cortina branca balançando com o vento, a janela está aberta, no tapete, abaixo da cortina, consigo ver uma grande mancha vermelha, ela parece estender-se pela parede até a janela.






-Nossa, como está frio... Ai! minha cabeça dói. - Falo enquanto passo a mão direita em meu rosto. Minha visão está embaçada. Alguns segundos depois, minha visão começa a ficar clara, eu estou no chão, meu rosto está contra o asfalto molhado e sujo, uma fina garoa está caindo sobre mim, o frio me incomoda demais. Começo a  levantar, ficando de joelhos vejo a arma à minha frente seguida da lanterna acesa, apontada para o corpo da garota. Ainda atordoado e com a forte dor de cabeça, constato o sangue escorrendo do meu nariz, descendo pelo rosto até minha camiseta branca, agora, manchada de vermelho. Pego a arma e logo em seguida a lanterna. Fico de pé, olho ao meu redor, tudo parece estar como antes, o beco sujo, o tempo nublado, agora um pouco mais escuro como um início de noite, o frio, o corpo, a parede... Não quero mais ficar ali, decido voltar à rua em que estava antes.


Chegando à rua, vejo que o bar está com a porta aberta e a luz acesa. - Vou ter sorte com a comida novamente? Duvido muito. Caminho em direção ao bar, abraçando a mim mesmo, o frio me faz tremer. Creio que daria um dedo por um banho quente e roupas limpas nessa hora. Entrando no bar, fecho a porta, o sino barulhento não me incomoda mais, não nessa situação. A vitrola está ligada, tocando nela: a música Whisky A Go Go... "Eu perguntava: do you wanna dance?
E te abraçava: do you wanna dance?
Lembrar você, um sonho a mais não faz mal... " Puf! desligo-a tirando o fio da tomada, não estou no clima para música.

Começo a pensar: Será que isso tudo é um grande pesadelo? É possível ter as sensações de chuva, frio, dor em um sonho? parece tão real... Gostaria que fosse um simples pesadelo. Mal acabo minha reflexão forçada e sou surpreendido pelo sino da porta, estou sentado no mesmo banco do bar de costas para a porta, quando ouço o sino, pego a arma rapidamente e viro-me para a porta apontando a arma em sua direção. Uma voz feminina que vem na minha direção logo grita: - Ei! Acalme-se! Aponte esse troço para outro lado. A voz soa com um forte tom sarcástico.


Sem parar de mirar a arma em direção à porta, vejo, atordoado, o vulto dar um passo adentrando ao bar e logo em seguida fechando a porta. Aquela cena parece demorar uma eternidade, em uma espécie de câmera lenta diante de meus olhos. Dando mais um passo a frente, destemido, o vulto surge da sombra revelando diante da luz do bar uma mulher: parece ser da minha idade, olhos pretos, assim como seu cabelo negro e liso pingando água, está com uma blusa branca, um casaco preto por cima parece protegê-la do frio, calças jeans azul-escuro com tênis branco termina o figurino.


-Vai ficar olhando o resto do dia com essa cara de bobo? - Fala a moça com o mesmo tom sarcástico.
Sem muita reação, abaixo a arma, mas não emito nenhuma palavra. Após alguns segundos trocando olhares desconfiados, pergunto: - Quem é você? - E logo tenho uma resposta: - Não deveria se preocupar em o por quê de estarmos aqui? - A linda moça fala enquanto revira os armários em busca de comida ou algo útil.
- Não adianta, não tem nada aí! - Falo, enquanto continuo olhando-a nos olhos, esperando uma resposta.
A garota percebe que não tenho paciência para perguntar novamente e logo responde, enquanto continua revirando os armários: - Meu nome é Alice, tenho 23 anos, estou perdida nessa cidade há 2 dias, quer RG também?
Nossa, como essa garota me irrita com esse tom sarcástico que parece fazer parte de sua natureza.
- E você, quem é? Qual sua história? - Pergunta, parando de revirar os armários e debruçando-se sobre o balcão, parece interessada em minha resposta.
-Sou o Chris, Christopher, onde estamos?
- Nossa, você gosta de fazer perguntas, heim! - o tom sarcástico novamente.
- Vamos logo, está ficando escuro. - Fala a moça, agora Alice, dirigindo-se à porta de saída.
- Vamos para onde? Por quê? - pergunto rapidamente
- Se quer fique aí, Chris, eu não vou ficar aí com eles andando lá fora à noite. - Fala enquanto abre a porta
- Alice! Espera aí, caramba! - Pego a arma, a lanterna e a sigo.


Seguindo Alice pela rua, percebo que ela olha freneticamente para as janelas dos prédios enquanto anda para o Leste pela calçada. Talvez isso explique minha sensação de estar sempre sendo observado.
Ninguém fala sequer uma palavra, parece que o silêncio é importante nessa hora.
Mas será que posso confiar nessa estranha? Quem são "eles"? O que querem? São muitas as perguntas, e até agora, nenhuma resposta.

Capitulo 01

Capítulo 01


Até ontem meu nome era Christopher, Christopher Cooper, 24  anos, estudante, curço publicidade em Porto Alegre, solteiro e quase órfão
sim, quase órfão, por quê? Porque meus pais sumiram no mundo quando eu tinha 6 anos, mal lembro deles, mas não gosto de falar sobre isso.

Depois de um dia exaustivo de faculdade, vou ao bar Smooker's perto do trabalho, coisa normal, de rotina, era um bar com cadeiras e mesas vermelhas com uma vitrola velha ao fundo e um balcão extenso de madeira, depois de um tempo algo anormal aconteceu. Eu só lembro de estar sentado no bar tomando uma cerveja e uma  senhora com cabelos brancos colocar a mão sobre meu ombro e falar -Volte!.
Depois disso, eu acordei no chão com uma forte dor de cabeça. Estava eu ali, de pé em um lugar completamente estranho, um tanto escuro, com uma névoa sombria. A princípio, achei que estava sonhando, óbvio... mas tudo mudou quando uma forte chuva começou a cair. Eu conseguia sentir a água bater em meu rosto, tive a certeza de que não estava dormindo. Um enigma a ser decifrado: lúcido ou não, estava acordado, sozinho no meio do que parecia uma rua deserta. Não posso afirmar, mas parecia uma simples rua com casas e  prédios não muito altos com várias lojas. Parecia uma cidadezinha do interior. Eu digo parecia, pois havia uma forte névoa que não me permitia enxergar muito além de uns 10 metros. O que eu via, era apenas uma cidade que parecia ter parado no tempo: carros de umas 2 décadas atrás estacionados, as lojas e  casas fechadas, mas nada quebrado, apenas bem sujo pelo  aparente tempo sem uso, mas nada de pessoas! E isso já estava  me deixando no mínimo intrigado...

Depois de alguns minutos andando na chuva, obviamente fiquei  com frio e decidi entrar em algum lugar. Entrei em um bar, a  porta rangiu bastante e tinha um daqueles sinos em cima,  sabe? Aqueles bem chatos que fazem muito barulho. O bar  estava vazio e muito empoeirado com pouca luz - apenas a da lua  invadindo o ambiente pelas janelas - resolvi tentar a sorte e  acionar o interruptor de luz, e a luz ligou.
Achei aquilo muito estranho, a luz ligar em um lugar  aparentemente abandonado... então pensei: mais estranho que  isso não pode ficar, não é?
Porque não fiquei quieto. Sim, coisas mais estranhas sempre  podem acontecer! Droga, eu estava no bar Smooker's! Sim, o mesmo bar onde eu estava antes de tudo isso acontecer. Bem vamos nos acalmar, afinal deve ter alguma explicação lógica! - pensei.


Após olhar melhor em volta, cheguei a conclusão de que não existia  nenhuma explicação lógica, eu estava em um bar movimentadíssimo  em Porto Alegre e, agora, estou no mesmo bar, só que abandonado numa cidadezinha de merda no interior. Rede de franquia de bares? Ah! Claro que não.
- Bem,  acalme-se, respire fundo, vamos vasculhar melhor esse bar.


Fechei a porta e me dirigi ao centro do bar. Mesas vazias, a mesma vitrola velha no canto, bancos vazios e empoeirados no balcão... opa! um deles não está empoeirado,  alguém o usou recentemente. Estranho... era o mesmo em que eu  estava sentado antes de tudo isso acontecer. Senti meu estômago reclamar de fome, passei ao outro lado do  balcão para tentar achar o que comer, estranhamente havia apenas  alimentos vencidos há quase 20 anos... melhor não  arriscar: antes com fome do que passar mal. Sentei no banco para esperar a chuva passar, aquele sem  poeira. Ao sentar, me veio uma imagem diante os olhos,  a  mesma imagem da senhora de cabelos brancos mas, desta vez, ela  falou - Procure! Senti novamente a mesma dor forte na  cabeça e desmaiei.


Acordei ainda dentro do bar, deitado no chão, a chuva já havia  passado e minhas roupas secado, meu rosto estava com sangue, o  sangue já estava seco e era meu, tinha saído de meu nariz, não  sei se foi por causa da queda, mas não parecia ser. Ao levantar, vejo sobre o balcão um prato bem preparado e ainda quente: arroz, um bife, ovo e alguns legumes. Naquela  altura, já estava com tanta fome que comeria até mesmo a comida  vencida. - Hummmmm! - Estava uma delícia... mas de onde veio? A comida certamente era real, não apareceu do nada, alguém a fez, isso significa que não estou sozinho nesta cidade.


Depois de comer, já me sentia melhor, pronto para continuar investigando, não havia novos sinais aparentes de que outra pessoa tivesse estado por ali. Nessa altura do campeonato eu já havia passado do estado de intrigado para o de assustado, sabia que precisava encontrar algo para me defender. Vasculhando o bar, encontro, nos fundos, um armário. Estava trancado com um cadeado velho e enferrujado, havia muita teia de aranha e poeira. Pego uma cadeira e, após algumas tentativas, quebro o cadeado. Abrindo o armário, encontro um revólver, no tambor há 6 balas, encontro também uma lanterna.


Saindo do bar, percebo que o tempo havia melhorado um pouco, já era dia e não havia chuva ou névoa, mas estava muito nublado deixando a rua escura. Agora, que não estava mais com fome e estava armado, me sinto melhor.  - Agora está tudo bem! Ah, droga, quando vou aprender a ficar quieto. - Um carro atravessa a rua, entrando em um beco. Eu corro, tentando alcançá-lo, mas o carro some em um dos vários becos entre as quadras. Eu tenho a sensação de estar sempre sendo observado, mas até então não vi nada vivo, ou se mexendo... Vagando dentre os inúmeros becos, encontro atrás de uma grande lixeira verde, enferrujada e abarrotada de lixo, um saco preto. Não sei porque, aquilo me chama  a atenção, vou até lá e abaixo-me diante do saco. O cheiro é muito ruim e forte, resolvo abrir o saco. Vagarosamente, com minha mão direita, começo a abri-lo, em minha mão esquerda está a arma, o cheiro piora a cada segundo, desenrolo a ponta do saco até que percebo que dentro dele há um corpo, com os primeiros indícios de decomposição. Apavorado, caio para trás.


Depois de algum tempo, consigo voltar a pensar, ainda muito assustado, olho novamente para frente e vejo na parede uma frase escrita com sangue fresco: "Encontrou o meu começo, agora procure o fim!". Essa frase, escrita com sangue fresco, me deixou atordoado, não sabia se pensava no corpo à minha frente, na bendita frase ou em meu estado de pânico.
Respiro fundo e resolvo olhar o corpo novamente. Engatinhando, avanço alguns metros até o corpo, descubro-o novamente e um sentimento de nojo paira sobre mim, era o corpo de uma menina: 8 ou 9 anos, cabelo escuro e liso, pele clara, eu acho, olhos azuis, mas com uma expressão de profundo terror. Não consigo mais olhar para aquela cena, rastejo para trás, começo a chorar, eu não sei porque mas a cena me causou uma dor cruel.


Após longos minutos, levanto-me vagarosamente, lágrimas ainda escorrem pelo meu rosto. Ao estar totalmente de pé, olho para a frase na parede, e não a encontro lá! Assusto-me, tremo por dentro.  - Eu a vi, ela estava ali diante de meus olhos! - murmuro enquanto aponto para a parede.  Ao olhar em volta, sinto a mesma dor forte na cabeça e, como nas outras vezes, desmaio.